Seus olhos multicoloridos se inundam agora, como a primeira vez...
Não que seja esta forma de olhar, de ver a vida, de abrir as janelas de sua alma ou a maneira espontânea como fala (às vezes demais)... Não que seja apenas esta louca maneira de amar, ou sua forma nada contida de entregar o jogo. Não é apenas como veste uma lingerie, mas como veste-se inteira de verdades ao falar.
Não é sua calada maneira de chorar para sua janela ou o modo como se sente só, incondicionalmente só... Não é seu modo de calar, mas a voz que grita, que arranha as tardes de sol -num samba.
Não são os caminhos que se fazem e desfazem à sua frente, não são os brincos que perdeu por aí, ou só as estradas erradas cheias de cacos por onde se cortou.
Não são os fins, são os meios...
Não que seja só esta doce maneira de andar sem rumo, nem são só as luzes das noites cariocas -que tanto ama- a iluminá-la...
Não é só a imagem refletida no espelho.
Não são as palavras tristes que profere ou as ausências e os espaços vazios. Assim como também não é só o sorriso que às vezes se atreve a sorrir.
Não são as sardas, a boca, o batom -essa mania de cantar- ou os olhos... colo, seios, quadris, pernas, aparatos e penduricalhos...
Não é o que se pode ver.
Não que sejam as unhas pintadas de carmim, ou os livros inacabados... Não é também só o que tem de Chico Buarque em suas palavras.
Não que seja só este atar e desatar comum em suas relações... Nem são só as coisas que se jogaram pelas janelas -para nunca mais...
Não são apenas suas mãos esperando a palavra a vir, quando falta a palavra certa.
Não pode haver outra, que como ela, anseie, busque, erre, tropece e caia com tal inteireza, e que do mesmo modo, se levante.
Não deve haver nenhuma outra que se ame e se odeie com a mesma paixão, e tão intensa, que morre todo o tempo, e do mesmo modo renasce.
Não há quem grite desta forma e ao mesmo tempo às vezes seja tão Bossa Nova.
Sabem... Chego a pensar que na verdade são estas coisas intrínsecas a ela, como a esperança, uma fonte de inesgotáveis chances de se fazer diferente o que está errado, esta mania -teimosa- de acreditar, que ainda que tudo dê errado, a vida dá muitas voltas, e numa delas, a gente se acerta.