sábado, 14 de julho de 2012
Do seu, eu
Encontro um cartão, o mais simples presente, o mais discreto modo de se dizer amor. Palavras secretas, escondidas que se abriram poucas vezes, ouso pensar que foram tão poucas que aquelas tímidas palavras se perderam no tempo. E é como se ainda hoje eu olhasse para trás e pudesse sentir o cheiro que tinha a casa, a cama deles, suas roupas... Posso ouvir suas vozes, lembrar do que falavam, ler-lhes as antigas verdades.
Faço-me perguntas sem respostas, não espero qualquer certeza, apenas gosto de perguntar, como se alguém, em algum lugar se questionasse como eu.
Como amar alguém sem ser triste? Como amar alguém e não matar o amor próprio? Como amar alguém que seja simples e doce, só uma vez?
O cartão estava ali, em alguma caixa, no fundo de alguma gaveta ou na bagunça de um quarto, poderia ter continuado perdido, mas por alguma razão eu o encontrei e não pude me furtar a guarda-lo, e uma vez mais me questionar sobre o que fazemos dos nossos amores, como os matamos diante das impossibilidades.
É só um cartão, são só palavras e uma vida que podia ter sido vivida, não fossem os desastres que todos cometemos; não fossem cabeças duras e incuráveis manias destrutivas; formas de machucar.
Só um cartão e toda esperança nele contido, de um amor que durasse uma eternidade e que fosse feliz. Guardo comigo o significado perdido para eles, e sei o quão triste pode ser quando as coisas terminam e alguém se vai. São duas pessoas que conversaram por horas a fio, ganharam tempo se descobrindo e perderam tempo se estranhando. Alguma vez tudo foi leve não havia o medo inconveniente de se dizer bobagens. Penso nos detalhes que não houveram, os que eles esqueceram, penso nas palavras que disseram, as que não disseram. Penso em tudo que eles esperavam encontrar, tudo o que sonharam fazer e o que não fizeram. Eu não sei se são felizes enquanto penso no que lhes afastou para sempre... O "para sempre", se existe, é tão triste.
O amor morreu, quem matou, o que matou, quem vai em frente, quem volta atrás? Quem sabe?
Quando uma coisa sai errado você volta à opção anterior?
A questão continua a ecoar: Quem é que sabe seguir em frente?
Será que alguém sempre se lembra do outro que não foi; que não está; nunca esteve; nunca escreve, ou se vai?
Volto-me inteira para mim, e esta ausência de um desejo qualquer me entorpece, é como se ouvisse... "eu quero estar contigo, pequena..." de uma voz que não conheço. Um carinho bobo, de quem, não sei.
É apenas mais uma noite fria e estamos sós...
São algumas -muitas- horas a nos separar, são meus estardalhaços, meus rosnados, minha força bruta que me fere inteira e do outro lado o ser reticente que imagino, pacífico e são, como tudo o que eu sempre sonhei. E que talvez possa me dizer uma coisa aqui e outra ali que mude o fato de que eu preciso me sentir sempre assim...
Irremediavelmente só.
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