quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O belo é generoso

Tento racionalizar o que nem ao menos posso entender. O amor é um doce tormento, não há um que não nos mate um pouco e que do mesmo modo nos faça respirar, sentir tudo pulsar. Incrível mas a minha maior alegria é também o meu grande e patético sofrimento, sofrimento de simplesmente não ser como eu queria, não dizer o que eu queria, e sempre fazer o que não queria. Quando vejo é como um lapso tardio, e tudo fica vazio e sem sentido, como se cada palavra saísse sem que eu a dissesse.
Agora estar perto ou estar longe dá no mesmo, como se o espaço não existisse e não houvesse distância física, o que corrói minha mente é todo espaço dentro de mim, toda solidão que há nele. Vejo a minha vida e nem posso crer que tudo que sonhei encontrar eu perdi. Há uma esperança destas terríveis que não nos deixa sair do lugar, há uma louca vontade de ir embora sem ter para onde, estou como numa prisão.
Cada sorriso me custa, às vezes fica difícil até respirar, roubaram meu ar. Gostaria de contar uma história diferente, uma cheia de cama, chocolate, beijo, abraço apertado, sonho compartilhado, verso entregue, carta dedicada com amor, que fosse capaz de dizer tudo o que tenho de bom dentro de mim. Esta história é sempre tão breve e tão rara, ela acontece tão depressa e o que vem depois é que dura uma eternidade.
No entanto quando eu puder sonhar novamente, e o calendário tiver virado todas as folhas e as páginas da minha história, este livro amargo e difícil de tragar, sei que só vai me restar uma lembrança e aprender a deixá-la para trás será a minha lição. Talvez então eu aprenda a ser generosa, falar das tristezas dos outros além das minhas e sacrificar o que me é tão valioso pelo bem do outro sem sentir tanta aflição. Peço para que os dias me ensinem a fazer belo o ato de amar, a transformar toda ausência numa presença, a querer com os olhos e não com as mãos, admirar sem desejar que seja meu, porque nós não temos nada de nosso. Desejo aprender a ser mulher leve como pluma e constante como o ar, que de não estar em lugar nenhum, de ser intocável é o que nos permite encher o peito de esperança. Desejo ser esta esperança para alguém, e ser aquela que vai mudar a vida de quem, não sei. Para que a minha existência se torne ao menos um pouco útil, para que eu possa sentir que fiz o bem e mereço a alegria simples de estar em paz.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A solução não existe

O que se faz ao acordar emaranhada em dor? Como se desprender de uma tristeza funda e irremediável? É preciso entender que novos dias virão e com eles novas dores e novas curas. É preciso adormecer, não lembrar, se perder.
Chega uma hora em que a gente já disse tudo que tinha para ser dito, embora permaneça um nó na garganta, destes incansáveis, que parecem nunca se desfazer. Tem horas em que de nada adianta procurar uma solução, o jeito é seguir e esperar que ela se apresente durante o caminho. Hoje eu não preciso pensar, escrever, afirmar, simplesmente sei que há uma razão para que tudo se faça tão desolador, a ausência de esperança às vezes não nos permite enxergar que toda lágrima seca com o tempo, tão natural quanto respirar, e que todo vazio uma hora é preenchido, ainda que demore.
Não ter duvidas, acreditar até o fim num destino que inventamos pode ter um trágico final, mas não acreditar no que se vive e se quer viver é também matar o que há de puro em cada sentimento.
Carrego comigo apenas cicatrizes, que doem às vezes e vão diminuindo a cada dia, se a amargura é característica irremediável, não sei, mas acredito num dia em que tudo há de ser paz, e eu não seja mais apenas dor.
Hoje é só mais um dia.