segunda-feira, 1 de março de 2010

Páginas rasgadas


Esses dias em meio aos meus tormentos típicos, estava eu revirando minhas gavetas em busca de coisas bonitas que me deixassem mais perto de mim mesma, talvez alguns desenhos, letras de músicas, diários antigos, qualquer coisa que os valha. Acabei encontrando até muito mais do que imaginei achar: Um desenho que ficou perdido no quarto antigo, desenho este de minha irmã Jayna, num caderno velho que ela usou na escola e depois largou, o mesmo estava perdido de baixo da poeira que cobria a casa, a muito tempo atrás eu peguei e o trouxe comigo, como quem tenta resgatar nem que seja um pouco da felicidade daqueles tempos.
Encontrei também na gaveta de cabeceira um broche de dragão, que um dia entreguei a um amor. Alguns desenhos meus, da época em que eu ainda gostava e tinha paciência para ir contra a minha natureza de péssima desenhista. 
Do amor que até então havia sido para mim o mais marcante, eu não encontrei nada, aí lembrei que queimei tudo sobre ele junto com a minha felicidade, acho mesmo que não valeria a pena ler nada daquilo, eu riria da minha própria ingenuidade hoje em dia.
Mas como a minha mente ainda pensava em algo, apesar de tudo, eu me lembrei de rasgar da mesma agenda as páginas sobre o amor mais bonito que vivi, de guardar aquelas páginas bem perto para que não demorasse a encontrar, afinal de contas eu sabia, lá no fundo, que mais pra frente eu perderia noites e noites lendo aquelas páginas, poucas páginas, mas que guardaram o melhor que ficou de nós, o melhor que ficou de mim, e eu consigo sentir as minhas palavras como se tudo acontecesse de novo no exato instante em que as leio, lembro do cheiro, do gosto que tinha a minha felicidade, e de como aquilo tudo, apesar do tempo, ainda faz sentido pra mim.
Estas páginas com certeza são uma mistura de tudo de bom que tem em mim, de todas as coisas bonitas e felizes, como se com elas fosse possível por um momento deixar atrás tudo o que tem de ruim em outras lembranças, e nada mais fere, nada mais mata, é como se tudo fizesse sentido, e cada lágrima que escorre dos olhos é apenas de felicidade, de saudade, e a tristeza só começa depois que as termino de ler.
Em meio a todas as minhas lembranças é como se ficasse mais difícil atropelar a solidão que eu sinto, ficaram tantas coisas e ao mesmo tempo elas simplesmente não existem mais. A casa da infância, as irmãs, a avó e os doces, o tempo em que amores eram fáceis, os dias de felicidade no quintal e talvez até as broncas de criança.
Enfim,  sei que estão lá as páginas rasgadas com a minha felicidade, sei que sinto paz e saudade quando as leio, sei que vou guarda-las comigo, afinal de contas "sonhar é melhor do que nada".
E esses dias eu aprendi que às vezes é preciso saber voltar atrás, é preciso saber correr atrás, quem sabe até eu não crio coragem e vou buscar algumas lembranças que ficaram dentro de mim, quem sabe apesar de tudo algumas coisas ainda possam valer a pena.

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