Eu passei por tantos labirintos antes de me encontrar, passei tanto tempo esperando pelo momento a vir, e de repente o que eu sou não basta. Não basta para que gostem de mim, para que a minha cinta-liga ou minhas roupas não incomodem ninguém, para que deixem de me olhar como qualquer coisa descontrolada, perdida... Não basta para que me olhem verdadeiramente nos olhos e queiram me conhecer, saber o que eu tenho ou não a oferecer.
Você simplesmente espera que te achem interessante pelo caráter e pela bondade que sabe que tem, que leiam o que você escreve e que te ouçam cantar Chico Buarque depois de umas doses e umas risadas a mais. Para você isso tudo é tão normal, que nas suas lágrimas ao pôr do sol na Avenida Paulista, e nos seus pensamentos mais fundos não encontra razão para que sua verdade e simples existência sejam tão ofensivas para alguns.
É tão bonito quando, mesmo sem tempo algum, de repente você tem um amigo de infância, que te ouve e ri das tuas bobagens pequenas, num passeio sem excessos, ou uma noite qualquer por aí, jogados pela Consolação, ou qualquer outro lugar. No meu mundo, tão cedo todos são cheios de sorrisos e abraços que te libertam e não oprimem que às vezes eu me esqueço das diferenças.
Existem tantas portas fechadas, e apenas um caminho, que no final das contas sempre é ser o que é. Sem rodeios, sem mais máscaras, sem disfarces, sem medo de se mostrar, de que adianta gostarem da tua mentira? É por isso que mais uma vez essa imagem de segurança e indiferença me cansou. Eu não sou bonita vinte e quatro horas por dia, como eu gosto tanto que pensem. Não sou interessante ou sensual, e eu trocaria todas as noites intermináveis e divertidas cheias de liberdade em garrafas e cigarros por uma só vez poder ouvir meu grande amor dizer qualquer palavra, cantar qualquer estrofe de qualquer canção que fosse, olhando para mim.
Meus olhos mudam de cor assim como eu me transformo dependendo do dia e do sol. Todas as coisas vão se transformando, e me disseram que quando uma luz se acende todo mundo percebe. Eu posso ser mil, e não existe outra igual - Como já dizia meu grande amor.
Minhas mãos são as mesmas mas eu mudo de esmalte quase todos os dias, apenas para me encher de cor.
O meu rosto ainda é o mesmo, ainda que eu mude a cor do blush, da sombra, ou até o formato da sobrancelha.
Eu posso ser diferente, e não muda o fato de que quase sempre, em quase todo lugar vai ter alguém a quem a minha simples presença vai ferir. O que mata é que não haja bem uma maneira de mudar isso. Não há bem uma maneira de fazer sempre tudo certo, e quem é que diz o que é certo mesmo?
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