O vento às vezes bate do lado de dentro da gente, faz tudo
balançar como quem pede atenção. É um "olha pra cá, tem algo errado... não
se desligue". Quando tudo está vazio demais esse vento sopra e nos
movimenta, faz brotar novamente um desejo qualquer.
A vida tem
acontecido alheia a mim e todas as conversas têm sido internas. O riso do
outro me causa estranhamento e certo incômodo, então me pergunto como aguentar
um sorriso que dura uma vida e não desconstrói entre um flerte ou uma tarde de
sol sem palavras. Por onde anda o encanto que perdi em alguém e já não
encontro?
Acontece de
repente: alguém te conhece simplesmente e sem explicação, te mostra dimensões
suas totalmente desconhecidas para você, te quebra a rotina de se conhecer
inteiro, toca uma parte inabitada, e até então adormecida pelo seu corpo, e é
isso que se chama amor?
O caminho que nos
leva de encontro a ele é penoso e penso então que gosto da dor como quem gosta
do sorriso no rosto conhecido, conheço pela desventura, amo o que tem de mais
profundo em alguém, a carne crua, que sangra; o beco escuro no fundo do peito;
o sentimento mais torpe que há, também tem a sua poesia, e toda poesia é bela a
seu modo.
O verdadeiro
sentido do amor, se é que ele existe, está no caminho mais difícil de
percorrer, e se no fim das contas houver um amor livre; de graça; que não fere
e nem é ferido, é porque alguém já passou por todas as dificuldades inevitáveis
de tê-lo, é porque alguém aceitou que amar não é prisão, é férias.
A "prisão do
amor" é toda teoria a que tem sido submetido, e é difícil aceitar. Eles
dizem: O verdadeiro amor nunca fracassa, fraqueja, desiste ou se vai.
E eu me pergunto
quem é capaz de catalogar um sentimento, ou fazer dele menor por ter se
cansado. Nós amamos e continuamos humanos, desistimos e vamos embora.
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