domingo, 25 de novembro de 2012

A solidão me cai bem

Um furacão, arrasadora, brutal, sempre no lugar errado, porque todo lugar é o lugar errado. A calmaria é só questão de tempo, eu sei, mas hora parece não chegar, e eu continuo correndo.
É como não ter uma casa, um lugar no mundo, é como não ser... Se sou, sou um instante, um momento, um breve pulsar, uma grande aventura, uma grande história sem sentido do início ao fim, um sentimento louco, desses como a esperança ou o desespero.
Agora a aurora, a rua vazia, a ausência de som, meu rosto sereno, meu corpo a continuar, e mais a frente eu me vejo na mesa de algum bar, com alguém sem rosto, sem carinho, sem querer, e sei que para onde vou existe um sentimento maior e mais forte que eu, um sentimento que vai insistir calado ou gritando, todos os dias desta nova vida. É loucura, eu sei, mas o que, aqui, não é?
Então, como é viver? É como sonhar acordada, é levantar ainda deitada, procurar e encontrar alguém, um abraço, um afago, um carinho qualquer sem ser qualquer coisa, uma vontade sem fim de ficar no mesmo lugar, de não mais fugir, nunca mais, é o nunca e o sempre de volta, é o pulsar maluco de um coração achado, é a felicidade de gostar e ser gostada,  sabendo quem sou e quem és. Sabendo o que somos juntos, sabendo que somos bons, livres e alegres. Somos gente, gente de verdade, de bater, de apanhar, de sentir tudo à flor da pele, de querer com paixão, de com medo ir a diante. Somos quem conquistamos todos os dias, de baixo de nuvens escuras e dias que parecem noites, a cima do céu, a baixo da terra, somos inteiros para nós e para o mundo.
A solidão que me faz, que me vive, que me sente, deixa de estar quando ele está, e só retorna quando o vejo partir, então me pergunto: Como é que pode a gente gostar tanto da gente? Como pode ser não sentir medo? E como nos sonhos, talvez tudo termine antes que eu conte até três ou aprenda a andar de bicicleta, talvez os momentos sejam apenas isso mesmo, e eu demore ainda para chegar a foto perfeita ou ao amor certo. Pode ser que a ressaca seja cheia de solidão novamente, e que não haja nós dois. Pode ser tanta coisa, e a gente nunca sabe o que vai ser depois.
Mas de quê é feita a felicidade senão de ilusão? Felicidade é uma enorme aventura e uma incerteza ainda maior. É a gente sorrir sem querer e gostar de repente, é não entender o se passa no coração alheio, é não esperar esperando demais...
E a solidão, que cai tão bem a este ser inquieto e melancólico que sou, de repente é uma condição completa, que faz parte de mim, como os meus olhos, mas nem sempre eu os vejo, e me sei ainda que longe do espelho. Desta forma me sei só dentro de mim, porque quando olho pela janela de qualquer lugar tenho a certeza de que não há lá fora alguém capaz de entender o que sinto, como sinto, ou de saber o que está por trás do que visto, por baixo do que mostro. Mas então, de algum modo, me olhou de frente alguém capaz de me conhecer sem me conhecer e de me olhar me enxergando, alguém capaz da paixão que nos tira do prumo e nos leva a viagem mais louca que há, e não sei e nem me importa o tempo, o vento contrário, o frio que faz dentro de mim, o momento é o que tenho, e vivo por um único olhar, o mais doce e terno olhar, que me sabe, sem nada saber de mim.



As grades


Há uma história que se olhada por uma janela com grades não parece nossa. Permanecemos ali, olhando, em estado de graça ou pavor, sentindo vontade de viver. Há histórias que num primeiro momento parecem corretas, mas as grades sempre nos impedem de ver alguma coisa, sempre nos bloqueiam algumas percepções, sempre nos impedem de pular de janelas, nos seguram, guardam, protegem e nos impedem de sonhar. Porque sonhar não é seguro. 
Acostumei-me a essa vista, quase sempre é o mais perto do mundo que eu chego quando mais me sinto presa, e sei que lá fora nada é como vejo. Gosto da janela (não das grades), gosto de poder olhar para fora e ver de outro modo o que acontece nas casas vizinhas, gosto do olhar que não se envolve e nada vê enquanto tudo vê. Por vezes, sinto as opiniões apenas formas de ferir, machucar o outro, nunca um afago, um carinho, uma tentativa de compreensão, simples e fácil. 
O direito a ser feliz e amar em paz deveria ser seguro, deveria fazer parte da vida de cada pessoa e ser vivido em plenitude, sem a louca necessidade de explicações e conceitos idealizados. Ninguém devia precisar de dicas de algum livro de autoajuda sobre como ser feliz, porque ser feliz é sempre um dia depois de outro, mas não é todo dia. A nossa história não precisa ter sempre um "bonzinho" e um "mauzinho", mas catalogamos as pessoas de tal forma, como se cada um pudesse ser sempre muito bom ou muito mau. Confesso que se eu fosse muito boa sempre, talvez fosse muito chata também. Acho esta história com o vilão e o mocinho sempre tão parecida; rasa, vazia e sem perspectiva. O mau sempre termina mal (ou morto). O bom é sempre muito feliz. Mas que vida miserável deve ser esta de ser feliz para sempre! Quanto tédio deve dar.
Olhando pela janela foi que descobri que havia um mundo que eu não conhecia, e olhar para fora era sempre tão bom quanto ler algum livro, uma viagem sem sair do lugar, uma viagem que não custa e ensina tanto, ao mesmo tempo. 
Aprendi então a deixar que as portas se abrissem para que eu pudesse viver os mistérios do mundo, e me permiti abrir um pouco do meu mistério ao que há fora de mim, como uma forma de retribuir o que aprendo com o que posso ensinar. 
Como é bom, finalmente entender que a vida é fácil de viver, que felicidade não é cinema e que a alegria existe e está aí o tempo inteiro diante de nós, basta que a gente queira sentir, e quando não dá, a tristeza que nos vem de encontro, ou a tristeza que procuramos, é o que nos ensina a diferença entre ser alegre e estar alegre. E estar triste não é ser infeliz, tristeza não é total ausência de alegria, assim como a alegria não destrói um "que" de melancolia que há sempre em qualquer pessoa, e eu entendo a melancolia e me afeiçoei a ela, pois é a sua presença constante em mim que me faz ver o que há de bonito lá fora, num mundo tão conhecido e sempre tão novo. 
Nunca se nada no mesmo rio duas vezes, nunca se anda por uma mesma rua duas vezes, porque novos passos já deixaram marcas que você desconhece, e novas pessoas estão sempre a um passo de serem descobertas.