Um furacão, arrasadora, brutal, sempre no lugar errado, porque todo lugar é o lugar errado. A calmaria é só questão de tempo, eu sei, mas hora parece não chegar, e eu continuo correndo.
É como não ter uma casa, um lugar no mundo, é como não ser... Se sou, sou um instante, um momento, um breve pulsar, uma grande aventura, uma grande história sem sentido do início ao fim, um sentimento louco, desses como a esperança ou o desespero.
Agora a aurora, a rua vazia, a ausência de som, meu rosto sereno, meu corpo a continuar, e mais a frente eu me vejo na mesa de algum bar, com alguém sem rosto, sem carinho, sem querer, e sei que para onde vou existe um sentimento maior e mais forte que eu, um sentimento que vai insistir calado ou gritando, todos os dias desta nova vida. É loucura, eu sei, mas o que, aqui, não é?
Então, como é viver? É como sonhar acordada, é levantar ainda deitada, procurar e encontrar alguém, um abraço, um afago, um carinho qualquer sem ser qualquer coisa, uma vontade sem fim de ficar no mesmo lugar, de não mais fugir, nunca mais, é o nunca e o sempre de volta, é o pulsar maluco de um coração achado, é a felicidade de gostar e ser gostada, sabendo quem sou e quem és. Sabendo o que somos juntos, sabendo que somos bons, livres e alegres. Somos gente, gente de verdade, de bater, de apanhar, de sentir tudo à flor da pele, de querer com paixão, de com medo ir a diante. Somos quem conquistamos todos os dias, de baixo de nuvens escuras e dias que parecem noites, a cima do céu, a baixo da terra, somos inteiros para nós e para o mundo.
A solidão que me faz, que me vive, que me sente, deixa de estar quando ele está, e só retorna quando o vejo partir, então me pergunto: Como é que pode a gente gostar tanto da gente? Como pode ser não sentir medo? E como nos sonhos, talvez tudo termine antes que eu conte até três ou aprenda a andar de bicicleta, talvez os momentos sejam apenas isso mesmo, e eu demore ainda para chegar a foto perfeita ou ao amor certo. Pode ser que a ressaca seja cheia de solidão novamente, e que não haja nós dois. Pode ser tanta coisa, e a gente nunca sabe o que vai ser depois.
Mas de quê é feita a felicidade senão de ilusão? Felicidade é uma enorme aventura e uma incerteza ainda maior. É a gente sorrir sem querer e gostar de repente, é não entender o se passa no coração alheio, é não esperar esperando demais...
E a solidão, que cai tão bem a este ser inquieto e melancólico que sou, de repente é uma condição completa, que faz parte de mim, como os meus olhos, mas nem sempre eu os vejo, e me sei ainda que longe do espelho. Desta forma me sei só dentro de mim, porque quando olho pela janela de qualquer lugar tenho a certeza de que não há lá fora alguém capaz de entender o que sinto, como sinto, ou de saber o que está por trás do que visto, por baixo do que mostro. Mas então, de algum modo, me olhou de frente alguém capaz de me conhecer sem me conhecer e de me olhar me enxergando, alguém capaz da paixão que nos tira do prumo e nos leva a viagem mais louca que há, e não sei e nem me importa o tempo, o vento contrário, o frio que faz dentro de mim, o momento é o que tenho, e vivo por um único olhar, o mais doce e terno olhar, que me sabe, sem nada saber de mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário