Há uma história que se olhada por uma janela com grades não parece nossa. Permanecemos ali, olhando, em estado de graça ou pavor, sentindo vontade de viver. Há histórias que num primeiro momento parecem corretas, mas as grades sempre nos impedem de ver alguma coisa, sempre nos bloqueiam algumas percepções, sempre nos impedem de pular de janelas, nos seguram, guardam, protegem e nos impedem de sonhar. Porque sonhar não é seguro.
Acostumei-me a essa vista, quase sempre é o mais perto do mundo que eu chego quando mais me sinto presa, e sei que lá fora nada é como vejo. Gosto da janela (não das grades), gosto de poder olhar para fora e ver de outro modo o que acontece nas casas vizinhas, gosto do olhar que não se envolve e nada vê enquanto tudo vê. Por vezes, sinto as opiniões apenas formas de ferir, machucar o outro, nunca um afago, um carinho, uma tentativa de compreensão, simples e fácil.
O direito a ser feliz e amar em paz deveria ser seguro, deveria fazer parte da vida de cada pessoa e ser vivido em plenitude, sem a louca necessidade de explicações e conceitos idealizados. Ninguém devia precisar de dicas de algum livro de autoajuda sobre como ser feliz, porque ser feliz é sempre um dia depois de outro, mas não é todo dia. A nossa história não precisa ter sempre um "bonzinho" e um "mauzinho", mas catalogamos as pessoas de tal forma, como se cada um pudesse ser sempre muito bom ou muito mau. Confesso que se eu fosse muito boa sempre, talvez fosse muito chata também. Acho esta história com o vilão e o mocinho sempre tão parecida; rasa, vazia e sem perspectiva. O mau sempre termina mal (ou morto). O bom é sempre muito feliz. Mas que vida miserável deve ser esta de ser feliz para sempre! Quanto tédio deve dar.
Olhando pela janela foi que descobri que havia um mundo que eu não conhecia, e olhar para fora era sempre tão bom quanto ler algum livro, uma viagem sem sair do lugar, uma viagem que não custa e ensina tanto, ao mesmo tempo.
Aprendi então a deixar que as portas se abrissem para que eu pudesse viver os mistérios do mundo, e me permiti abrir um pouco do meu mistério ao que há fora de mim, como uma forma de retribuir o que aprendo com o que posso ensinar.
Como é bom, finalmente entender que a vida é fácil de viver, que felicidade não é cinema e que a alegria existe e está aí o tempo inteiro diante de nós, basta que a gente queira sentir, e quando não dá, a tristeza que nos vem de encontro, ou a tristeza que procuramos, é o que nos ensina a diferença entre ser alegre e estar alegre. E estar triste não é ser infeliz, tristeza não é total ausência de alegria, assim como a alegria não destrói um "que" de melancolia que há sempre em qualquer pessoa, e eu entendo a melancolia e me afeiçoei a ela, pois é a sua presença constante em mim que me faz ver o que há de bonito lá fora, num mundo tão conhecido e sempre tão novo.
Nunca se nada no mesmo rio duas vezes, nunca se anda por uma mesma rua duas vezes, porque novos passos já deixaram marcas que você desconhece, e novas pessoas estão sempre a um passo de serem descobertas.
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