Em algum lugar um sorriso e então me esqueço de ir embora, aí se fecha uma porta e logo uma janela, fico procurando uma árvore de algum quintal, ou de um livro que li -quem sabe uma vaca voando- uma fresta de luz qualquer, qualquer sentimento. E tudo vai ficando escuro e eu com frio, já não sei o caminho, ou se há estrada, tudo calado, e o silêncio gritando cada vez mais, eu permaneço pensando, e o que não daria para não pensar, meu medo vem dessa ideia desordenada que existe em mim, da fantasia de me fazer feliz.
Eu não saio por aí perguntando se as pessoas são ou não felizes, se os seus amores perdidos deixaram marcas e de que tamanho, porque sei que deixaram, e é tudo. Ninguém é feliz, a vida é por tanto uma eterna busca, somos escravos dela -quase todos- mas não sei da minha, se demoro, volto logo ou nunca mais, se permaneço em cada abraço, se desmorono, me desfaço, se eu espero que algum dia a vida se faça uma coisa tão nova que de repente tenha algum sentido. O que sei é tão simples quanto ser quem sou, há um grito que não silencia dentro de mim, que me manda fazer o que for, o que eu quiser. Não há que entender, quando vi já me fiz sofrer.
Aí tem os lugares por onde andei me lembrando que existir é constante, não tem onde a gente possa se esconder, não dá pra desaparecer como eu tanto gostaria, muito mais que gostaria. Tem as fotos que rasguei me lembrando as escolhas erradas que fiz, e foram tantas. Tem as ruas tortas, os pesadelos que insistem em me atormentar, a maldade alheia que ainda me dá medo. Tem toda a inocência que ainda há em mim e a terrível resposta do mundo, de não me permitir preservá-la.
Tem um pouco de "João e Maria" de Chico, em mim, um pouco de praia, de não me importar, e tanto pavor do que vem agora, do que a vida manda, do que eu quero. Então lembrei que existo, e dentro de mim há dimensões desconhecidas e só minhas, pra onde eu posso fugir quando tudo se acabar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário