sábado, 26 de julho de 2014

O dia que não terminou

"Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."

Algo aconteceu aqui onde as lágrimas haviam secado. Dizer que os questionamentos quase dilacerantes que me tenho feito não são a razão de minha loucura seria mentira, porque o nó na garganta junto ao medo de estar perdida, ou melhor, a certeza de que mesmo sabendo onde estava, dali não chegaria a lugar nenhum, me fizeram sentir aquele dia diferente dos outros. Andei sem olhar para trás e parei logo em frente certa de que ninguém me veria, que ninguém jamais poderia imaginar a humilhação que sentia. Eu escolhi estar ali, naquela manhã fria, completamente só, com as ilusões partidas ao meio e caindo enquanto tentava me equilibrar, e por mais invisível que quisesse me sentir, ao final é sempre a mesma visão cruel de mim mesma: Acreditando que era melhor que a pessoa que fugiu no dia anterior, e que talvez, só uma vez, estivesse certa em pensar que poderia não me ferir, nem ferir a ninguém.

Mesmo agora, me olhando no espelho e reconhecendo meu rosto pálido, sabendo que sou eu, que são meus olhos desesperados e minha boca seca de tanto gritar,  morrendo mais um pouco, mais um dia, não sei o que fazer. Eu só ouço os relógios andando e eu querendo parar, parar de ser eu. talvez porque seja difícil conviver comigo mesma, ou simplesmente porque sou o maior fracasso que conheço, por viver pedindo desculpa por meus privilégios, ou por nunca ter sabido amar inteira e sem medo como sempre esperei dos outros. Mas a verdade, aquela que dói mais que posso suportar, é que o único amor que sempre quis, que poderia ter mudado as coisas, eu nunca vou ter, porque sou apenas esta lista de erros incompreensíveis, ou porque eu o queira demais.

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