"Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."
Algo aconteceu aqui onde as lágrimas haviam secado. Dizer
que os questionamentos quase dilacerantes que me tenho feito não são a razão de
minha loucura seria mentira, porque o nó na garganta junto ao medo de estar
perdida, ou melhor, a certeza de que mesmo sabendo onde estava, dali não
chegaria a lugar nenhum, me fizeram sentir aquele dia diferente dos outros.
Andei sem olhar para trás e parei logo em frente certa de que ninguém me veria,
que ninguém jamais poderia imaginar a humilhação que sentia. Eu escolhi estar
ali, naquela manhã fria, completamente só, com as ilusões partidas ao meio e
caindo enquanto tentava me equilibrar, e por mais invisível que quisesse me
sentir, ao final é sempre a mesma visão cruel de mim mesma: Acreditando que era
melhor que a pessoa que fugiu no dia anterior, e que talvez, só uma vez,
estivesse certa em pensar que poderia não me ferir, nem ferir a ninguém.
Mesmo agora, me olhando no espelho e reconhecendo meu rosto
pálido, sabendo que sou eu, que são meus olhos desesperados e minha boca seca
de tanto gritar, morrendo mais um pouco,
mais um dia, não sei o que fazer. Eu só ouço os relógios andando e eu querendo
parar, parar de ser eu. talvez porque seja difícil conviver comigo mesma, ou
simplesmente porque sou o maior fracasso que conheço, por viver pedindo
desculpa por meus privilégios, ou por nunca ter sabido amar inteira e sem medo
como sempre esperei dos outros. Mas a verdade, aquela que dói mais que posso
suportar, é que o único amor que sempre quis, que poderia ter mudado as coisas,
eu nunca vou ter, porque sou apenas esta lista de erros incompreensíveis, ou
porque eu o queira demais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário