
"SONHA E SERÁS LIVRE DE ESPÍRITO... LUTA E SERÁS LIVRE NA VIDA"
Che Guevara
Durante muito tempo eu acreditei que só seria feliz depois que saísse de casa, me libertasse de tantas explicações e cobranças, depois que, enfim eu pudesse tomar conta de mim mesma e prestar contas apenas a minha consciência. Bom, a verdade? Isso é sonho de criança que ainda precisa crescer um pouco mais para saber o que realmente quer da vida.
Hoje em dia eu acho que não saberia viver sozinha e nem tomar conta de mim mesma, pelo menos não antes dos 25. Eu acho mesmo que quero casar, ter filhos, família e etc. Acho que não nasci para viver sozinha.
Liberdade? Liberdade é sentir o vento do Arpoador, é sentir seu corpo tão leve a ponto de se deixar levar com a brisa que bate. Liberdade é poder mostrar que sente, que se emociona. Liberdade é poder dizer em alto e bom tom tudo aquilo que se quer.
Eu não busco a liberdade de antes, eu sei que hoje eu quero que alguém me segure e não solte mais, porque eu acredito, e de acordo com a filosofia do Pedro, aquele que é completamente desapegado e que não se prende, também está sempre caindo, já que não tem em quem se segurar, em quem se apoiar. Eu não sei ser assim, eu não sei ser sozinha, muito embora eu prefira às vezes estar sozinha a estar com pessoas que não me acrescentam nada.
Eu cheguei até aqui com muito medo, com medo de que um dia, assim, sem motivos tudo que eu acreditava desabasse. De uns três anos para cá foi isso mesmo que aconteceu. Eu perdi aquela vida de bairro-escola, aquela vida de casa, comida, roupa lavada, bolo e cuidados de avó, eu vi o meu mestre perder a sanidade e me olhar nos olhos já cheios de lágrimas, segurar minha mão e dizer: Ah Catarina, graças a deus você veio me ver! E eu encontrei ali, naqueles olhos, naquelas palavras as mesmas angustias e os mesmos medos que me cercam, eu vi nele, talvez pela primeira vez a coragem pra mostrar que também tem um coração e que também sente, como qualquer pessoa normal. Eu vi nele, o medo tão grande de estar por um fio, não o medo da morte, mas o medo de já não poder se lembrar de mim.
Eu perdi aquela vida de regras: hora para estudar, hora para ler, hora para brincar, mas sem hora para ser feliz. Foi em meio a essa impossibilidade toda da minha única procura, a felicidade, que eu me encontrei feliz por estar viva, por ter quem me protegesse e cuidasse de mim. Eu me encontrei feliz nas coisas mais simples, em ter um gato, um cachorro, em ver os pássaros cantarem, no abraço de pai, em cada 'eu te amo' verdadeiro, em saber e ter aprendido que nessa vida distância nenhuma separa um amor, e nem a morte faz a gente esquecer.
Ser livre para mim agora é de repente poder viver cada momento, não como se fosse o ultimo, eu não quero pensar no fim, mas viver e poder respirar aliviada por ser o que eu quero ser, ser como eu gosto, ser como eu sou, apenas isso. Eu não peço que aceitem, respeito a gente conquista, mas eu quero arriscar e ter sempre coragem para ir atrás do que é importante, isso é ser livre.
Eu quero me orgulhar do que sou, bater no peito e poder dizer um dia que eu fiz o que achei certo sempre, que eu fui justa, ética, honesta e o que for, que sempre agi com o coração e sem arrependimentos.
E é quando eu olho para a dona Fernanda (minha mãe) é que eu vejo a coragem que eu quero ter. Deixou a casa da mãe quando achou que deveria, batalhou o seu emprego, se engajou na política e num sindicato, e como ela mesma diz: "A gente não luta por um, luta por todos". E ela luta, luta por mim, por ela, por nós, e batalha todos os dias pela sua consciência, para fazer o que é certo. Ela sim é livre, livre de qualquer comentário que possam fazer, livre porque é dona de si mesma, paga suas contas e cuida de mim como se eu fosse realmente parte dela.
A minha liberdade ideal é assim, eu luto um pouco cada dia, eu sobrevivo e sei que sempre vai existir um dia seguinte. Ainda me falta CPF, titulo de eleitor e poder batalhar nas ruas o que eu quero, me falta escrever um livro, me falta um grande amor, mas eu sei que o que eu quiser vou lutar para conseguir, e se não conseguir tudo não vai ser porque não lutei.
Eu quero mais é areia de praia, eu quero o sol batendo na cabeça, eu quero presença, quero milhões de abraços, de beijos apaixonados, eu quero muito carinho, e eu quero um bem enorme até pra quem me quis mal.
Liberdade para mim é poder estar sempre de braços abertos para o que vier, experimentar tudo, mas saber diferenciar o certo do errado, claro. Liberdade é não guardar rancor, mágoas, é poder sempre olhar para frente, abraçar o destino, se fazer feliz. Liberdade é, enfim, poder ser louca o quanto eu quero, poder voar, sonhar, e ter um mundo só meu aqui dentro de mim.

