quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Diga-me até onde se chega por egoísmo...

E eu lhe digo até aonde por amizade.

Diga-me meu bem, o que posso fazer por você?
Diga-me se precisa de um ombro, de dois ombros
Se necessário encomendo mais um para lhe dar de alento.

Diga se precisa de um conforto, e eu lhe ofereço meu colo
para que nele teu semblante triste possa adormecer,
para que sonhe e se esqueça, ainda que por um momento
de toda amargura, toda desventura e toda dor desta vida.

Me dê a tua mão que eu lhe mostro um caminho melhor
Siga comigo por onde mel corre feito um rio entre as cidades,
Vamos passar pelos lugares mais belos que a tua mente consiga imaginar.

Imaginaremos um oásis particular que nos permita fuga deste inferno!
Imagine que podemos voltar atrás, uma vez mais, e fazer tudo certo.
Imagine que atravessaria os caminhos mais sujos e tortuosos por mim
E tenha a certeza de que eu iria por ti até onde fosse necessário.

Por um deserto de areia a me queimar eu atravessaria.
Pelas pessoas mais torpes e imorais eu passaria.
E mostraria a toda essa corja que insiste em dizer que estamos errados
que a nossa amizade vale à pena apesar de tudo.

Diga-me agora, meu bem, se realmente vale à pena.
Diga-me até que ponto iríamos por este "amor".
Diga-me então por quantos desertos você atravessaria,
ou quantas pessoas você enfrentaria.

Este agora é muito tarde para mais palavras proferidas em vão.
É tarde para que você me fale de todo o seu amor e mansidão.
É tarde, então, para que nós possamos fazer tudo certo.
É tarde demais pra que me diga o que posso fazer por você.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Desligue-se um pouco...

Vem sendo o meu lema de uns tempos pra cá.
Eu me desliguei de tudo um pouco, até de mim mesma, eu soltei toda aquela pressão cotidiana e me deixei levar pela loucura descompensada que se tornou minha vida com tanto tempo livre.
Andei por lugares que nunca imaginaria, dentro e fora de mim. Me embriaguei de lucidez durante o dia, mas tive overdoses de felicidade (com vodka) em algumas praças por aí durante a noite escura. A mesma noite que me trouxe grandes (novos) amigos de infância. Durante essas noites acabei percebendo que realmente nem tudo é o que parece ser, por que eu, doce, triste, sozinha, de repente estava lavando a alma com tanta alegria, e nem havia me dado conta.
Eu tenho tentado dizer a mim mesma que tudo isso é real, e que eu não preciso mais ficar trancada num apartamento frio. Eu estou tentando me convencer de que tudo pode dar certo, ainda que poucas vezes na vida. Em meio a toda essa loucura desenfreada eu nem tinha me dado conta de quão bonitos tem sido os meus dias, cheios de sol (ainda que com chuva), cheios de vida e de vontade. 
Tudo o que tenho agora são algumas palavras, folhas de papel e tinta. Tenho muitas histórias para contar e uma imaginação que só se compara à minha vontade de escrever. Tenho um amor imensurável e algumas aventuras e desventuras dentro de um labirinto que chamo de coração. Eu tenho aqui comigo também muita magia, muita poesia, muita palavra bonita e carinho para oferecer. Eu tenho aqui comigo uma coisa engraçada, que não se explica e não se descreve, apenas se sente, e se chama felicidade.
Em algum momento existiu sim, aquela velha pobreza de espírito, de carinho, de alento, que de repente desapareceu. Eu tenho vivido então a magia de me sentir completa, de não ser apenas mais uma no mundo.
E  por Deus, que permaneça a mim a inspiração para escrever, agora que a tristeza inexiste.


Ao meu amor, grande amor, que me devolveu toda a graça que tem viver.
Aos meus amigos, que não sejam breves.
À minha vida, que agora é inteira felicidade, e não descobre mais tristeza maior. Essa vida vale à pena mais uma vez.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Voragem

(Crônica premiada pela Academia Paulista de Letras)


Estava atrasada, naquele dia tudo parecia ir contra mim, quando acordei eram apenas cinco minutos, mas antes mesmo que pusesse os pés para fora, passaram-se vinte deles sem que eu notasse. Na rua, o trânsito infernal típico de uma segunda feira, as pessoas correndo, alheias ao resto do mundo e sem perceber o sol que surgia no horizonte.
O mundo se apressa e se esvai, ritmado pelo bater dos relógios, pela ilusão do infinito tempo e pela insignificância em relação ao imensurável. O tempo permanece indomável, indiferente aos que tentam adequá-lo, ainda assim desperdiçamos o que cada vez menos nos resta, nesta inútil tentativa de conquistá-lo.
As pessoas consomem suas essências ao buscarem compreender que de fato não se pode ver ou dominar o tempo que não se sente passar, e ainda que exista muito a ser feito é a pressa que aproxima o fim.
O sol tornava-se mais cálido enquanto a aurora se instaurava, o cinza das nuvens agora dava lugar a um majestoso azulado. A exacerbada pressa que tomou conta da rua já me fazia questionar se as pessoas realmente não viam porque não queriam, ou se os relógios haviam as feito cegas.
A natureza continuava passando despercebida por entre nós. É simples, e não é preciso entendê-la, no entanto complexa a felicidade com que ela nos presenteia. Temos um céu azul, basta olhar para cima. Temos um sol que reluz com intensidade e em vez de reparar quando ele cintila, só nos damos conta nos dias de absoluto inverno em que ele não mais está.
Por hoje eu desisti do trabalho, sentei-me numa mesa de cafeteria e passei apenas a observar os semblantes a minha volta. Estava eu rodeada pela ânsia alheia. Já podia até imaginar o que estariam pensando de mim: - Vida boa a desta mulher, sentada tranquilamente numa mesa arejada, tomando o seu café, vendo a vida passar.
Para eles, difícil era, imaginar a coragem que é preciso para ignorar os compromissos e estar aqui simplesmente contemplando o existir.
Este é o mausoléu de toda a felicidade, toda esperança e toda vontade. Este é o sepulcro da transcendência humana. Daqui eu ainda posso ver o céu, o único vestígio de vida que há, pois aqui na Terra, tudo o que vejo são escravos de suas próprias criações e de sua época.
Na mesa ao lado, uma mulher aparentemente infeliz, no entanto jovem, bonita e com uma vida inteira pela frente para fazer valer a pena. Lia muito interessada um livro de autoajuda, e eu pensei aqui comigo: - Perdemos tempo comprando esses livros, e ainda assim não aprendemos como acabar com a angústia de se sentir só mais um, a fazer o que todos fazem e sem coragem de largar os compromissos por um dia para ver o sol.
O vespertino alaranjado no céu se tornava evidente, eu já havia passado do décimo café; na avenida em frente, o entupimento dos carros anunciava o horário do “rush” e o som estridente das buzinas me machucava os ouvidos. A mesma pressa, mas desta vez para chegar em casa e encontrar o pouco de alento e paz necessários para enfrentar o dia seguinte.
Levantei-me, paguei a conta e agradeci os serviços do velhinho prestativo que me atendera. Saí sem rumo e com uma vontade imensa de me perder por este labirinto de edifícios mortos, muros de concreto e ruas sem saída.
As pessoas afobadas passavam por mim sem notar-me, tropeçavam umas nas outras e nem olhavam para trás.Querem nos fazer acreditar que somos um só, que temos força, que somos capazes, no entanto, cada vez mais os caminhos se separam, cada um por si, cada um na sua estrada e sem entender que às vezes é preciso saber voltar atrás e questionar os limites e razões que nós mesmos nos impusemos.
Até na longínqua cidade, a luz das estrelas o tempo ignorava, e em seu solo pousava. A branda luz a me iluminar é o que me faz seguir adiante e não temer mais a sombra do amanhã.
Eu queria ver a noite passar e em sua escuridão levar tudo o que resta de frio por aqui, arrancar deste inferno todos os que ainda insistem em permanecer estagnados em sua própria insignificância. Eu quero ver um novo dia raiar e quero ver o mundo amanhecer ao seu lado, com mais força, sem medos, e sim, com toda a coragem que se precisa para que as coisas passem a fazer um sentido verdadeiro em nossas vidas.

- Dedicada a Rafael Ribeiro.