sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Eu te agradeço


Boa tarde, tarde boa mesmo, sem hipocrisia. Sol entrando pela janela e Paulinho da Viola ao som.
O ano está no fim e eu o passei triste, entre baixos e baixíssimos, honestamente, eu me acostumei ao infortúnio mais que ao prazer. O ano que foi para mim um enorme ponto de interrogação está indo embora e tirar dele uma lição, uma única que valha estes dias é o que eu busco. Então, hoje agradeço por não saber, e que minha dúvida me leve a conhecer outras de minhas dimensões. E se uma vez eu puder agradecer por tudo, que seja assim: Agradeço ao privilégio de ser livre num mundo com tantas amarras. Por ser quem eu escolhi e não ter de pedir licença à ninguém para isso.
Agradeço por esta maturidade chata que vem chegando de mansinho, que me mostrou que pouquíssimas pessoas de fato farão parte da minha vida, não importa com quantas eu me preocupe, por quantas eu me doe ou me doa.
Agradeço aos companheiros que tive, e ao que tenho pelo amor que me faz pulsar, porque sou movida à paixão, embora não seja mais tanto de romances, obrigada pelos momentos de plenitude emocional que me proporcionaram.
Agradeço aos amigos que me estenderam a mão, que me tocaram com seus gestos nobres, que me amaram e me odiaram com a intensidade de que eu preciso. Estendo também aos que não me conheceram ou não gostaram de mim porque eu tenho sardas e nariz de gente metida, fora a cara de desaforada! Bom, pelo que quer que seja, hoje eu me desculpo.
Agradeço por este refresco fraco e cor de rosa totalmente batizado, e por existir o samba para salvar as quartas à tarde.
Agradeço à família que não escolhi, cheia de gente louca, o que confirma que não nego a raça, gente linda e generosa, porque generosidade devia chamar Rosa...
Agradeço ao ano que começou numa madrugada maravilhosa no Pará, mas que eu soube desde o início que seria uma confusão enorme para administrar. No fim das contas não me saí tão mal. Continuo acreditando que todo dia dá pra melhorar e que ser melhor não tem a ver com não se sujar, ou ser capaz de racionalizar erros e não cometê-los. Acredito que somos bons quando sensíveis ao problema alheio, quando começamos a não julgar e ferir as pessoas, mas também quando não nos calamos se as ferem. Que seja hoje um recomeço, assim como foi o ano inteiro, uma chance, um momento em que tudo e nada se concentrem em nossas possibilidades.

domingo, 24 de agosto de 2014

Fora de órbita

"Órbita é a trajetória que um corpo percorre ao redor do outro sob a influência de alguma força."
A real descrição da minha existência em um parágrafo. Sou de forma tão simples quanto esta frase, por um instante ponho de lado minhas lamurias, que não passam de manias. Venho me tornando alguém realmente muito mais fácil e terrivelmente desagradável. Já não tenho mais paciência para discussões, da mesma forma que não tenho para ser simpática ao pensamento alheio. No fundo eu detesto o ser humano e isto fica claro cada vez que me recuso a uma explicação de meus pensamentos. Escrevo para mim, porque sou egoísta. Tenho plena consciência de que as pessoas com que convivo não entenderiam o que está aqui, porque é justamente a forma simples como eu não gosto das pessoas o que incomoda. Mas hoje eu venho tentar algo novo, escrever para alguém que nem mesmo é alguém, de forma que tudo aqui registrado é para ninguém.
Sabe, eu tenho sofrido de uma fraqueza horrível, uma impotência absoluta sobre mim mesma, sobre o meu corpo que não me obedece sempre que imploro que pare de me maltratar. Honestamente eu nunca tinha sentido um desconforto assim, tanto que me assustou pela primeira vez a ideia de estar morrendo. Não posso dizer que esta seja a pior parte, porque depois vem o mundo te devorando e você vivendo já pra morrer. Queria dizer que é diferente mas amanhã posso cair em contradição, seria apenas mais uma das mentiras que contamos para sobreviver. O que eu sei é que mesmo distante das certezas te escrevo creditando no que fiz e faço todos os dias para ser um ser humano melhor, ou ao menos livre. Carrego comigo as marcas dos tropeços, mas quem nunca caiu? Estou me erguendo desta vez muito mais forte, mais sã, e espero que um dia nos encontremos por aí. Quanto a mim, não permaneço, pela primeira vez na vida sinto que estou saindo de meu lugar cativo para conquistar um outro ainda não desvendado, mas que aguardo ansiosa por descobrir. Quem disse que a morte, as enfermidades e tantas outras mazelas não proporcionam um recomeço, ainda não sabe o que é renascer.
Obrigada a você por não ser você e por me permitir uma autocompreensão tão profunda. E obrigada também a você que é você, o homem que amo, por jamais me deixar cair sozinha.

sábado, 26 de julho de 2014

O dia que não terminou

"Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."

Algo aconteceu aqui onde as lágrimas haviam secado. Dizer que os questionamentos quase dilacerantes que me tenho feito não são a razão de minha loucura seria mentira, porque o nó na garganta junto ao medo de estar perdida, ou melhor, a certeza de que mesmo sabendo onde estava, dali não chegaria a lugar nenhum, me fizeram sentir aquele dia diferente dos outros. Andei sem olhar para trás e parei logo em frente certa de que ninguém me veria, que ninguém jamais poderia imaginar a humilhação que sentia. Eu escolhi estar ali, naquela manhã fria, completamente só, com as ilusões partidas ao meio e caindo enquanto tentava me equilibrar, e por mais invisível que quisesse me sentir, ao final é sempre a mesma visão cruel de mim mesma: Acreditando que era melhor que a pessoa que fugiu no dia anterior, e que talvez, só uma vez, estivesse certa em pensar que poderia não me ferir, nem ferir a ninguém.

Mesmo agora, me olhando no espelho e reconhecendo meu rosto pálido, sabendo que sou eu, que são meus olhos desesperados e minha boca seca de tanto gritar,  morrendo mais um pouco, mais um dia, não sei o que fazer. Eu só ouço os relógios andando e eu querendo parar, parar de ser eu. talvez porque seja difícil conviver comigo mesma, ou simplesmente porque sou o maior fracasso que conheço, por viver pedindo desculpa por meus privilégios, ou por nunca ter sabido amar inteira e sem medo como sempre esperei dos outros. Mas a verdade, aquela que dói mais que posso suportar, é que o único amor que sempre quis, que poderia ter mudado as coisas, eu nunca vou ter, porque sou apenas esta lista de erros incompreensíveis, ou porque eu o queira demais.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

A mulher autoanálise, autoajuda, acorrentada aos próprios delírios. Esta sou eu, aqui mais uma vez.
Talento desperdiçado, me perdi na fumaça de meu cigarro, não sei mais escrever sem o meu cigarro. E agora?
Um fio de esperança me toma às vezes e eu chego a crer que de algo vale a minha forma de ver as coisas. "Não machuque. Não condene. Esteja lá porque certamente alguém vai precisar." Hoje não sei se alguém precisa de algo além do salário suado do fim do mês, depois de engolir ser explorado e achar normal porque o mundo é assim, é assim que funciona. Não sei se meus amigos me esqueceram ou se suas vidas os tem engolido de forma tão brutal que meu ócio indevido não me permite enxergar.
Meus dias têm sido de vagarosas tempestades, do começo ao fim de meus objetivos e desejos mais profundos existe uma carga de incompreensão maior e mais pesada que eu, ainda assim prossigo acreditando que sou quem quero ser, num esforço extraordinário de viver neste mundo.
Parece besteira,mas como diabos a bola verdeamarela ficou mais importante que um teto que proteja as pessoas do frio? Os anos que existo não são nada perto das vidas desperdiçadas há séculos por uma humanidade falida e falha, onde as coisas importam mais que as pessoas e a solidão não cabe mais nos livros, existe nas companhias, como uma mostra cruel e dolorosa de onde vamos chegar.
Talvez seja esta a ultima vez que escrevo em desabafo, haja visto o quanto demorei para dar forma às palavras, então, se você quer saber como é ser alguém que não se encaixa em lugar algum, venha me conhecer e eu mostro como é viver carregando o fardo de não existir completamente, porque minha história foi ganhando forma pela falta dela.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

"Entre a fidelidade e a liberdade, haverá uma conciliação possível? A que preço?"
Disse Beauvoir...

Não sei de que forma sustentar minhas vontades, meus impulsos... Não sei o que faço se tudo o que sou é tão alheio aos outros. Loucura como eu tinha medo de crescer e no entanto tenho me lançado ao mundo de forma tão brutal. 

O amor é um terrível engano, eu creio, destes que nos fazem perder a cabeça e todas as certezas já por nós cristalizadas. Imaginei um tempo certo, um dia de sol, uma brisa leve e todas estas besteiras que lemos nos livros, particularmente eu que sempre gostei dos romances, e todo aquele amor capaz de tudo, que dura, honesto e limpo. Mas como o ideal é falho, como somos seres falhos, como o amor foge ao controle e ainda pensamos ser fortes, sendo tão frágeis. O tempo passa e por vezes parece andar para trás, como confuso, perdido. E eu? Pobre de mim, presa aos dias.