domingo, 25 de novembro de 2012

A solidão me cai bem

Um furacão, arrasadora, brutal, sempre no lugar errado, porque todo lugar é o lugar errado. A calmaria é só questão de tempo, eu sei, mas hora parece não chegar, e eu continuo correndo.
É como não ter uma casa, um lugar no mundo, é como não ser... Se sou, sou um instante, um momento, um breve pulsar, uma grande aventura, uma grande história sem sentido do início ao fim, um sentimento louco, desses como a esperança ou o desespero.
Agora a aurora, a rua vazia, a ausência de som, meu rosto sereno, meu corpo a continuar, e mais a frente eu me vejo na mesa de algum bar, com alguém sem rosto, sem carinho, sem querer, e sei que para onde vou existe um sentimento maior e mais forte que eu, um sentimento que vai insistir calado ou gritando, todos os dias desta nova vida. É loucura, eu sei, mas o que, aqui, não é?
Então, como é viver? É como sonhar acordada, é levantar ainda deitada, procurar e encontrar alguém, um abraço, um afago, um carinho qualquer sem ser qualquer coisa, uma vontade sem fim de ficar no mesmo lugar, de não mais fugir, nunca mais, é o nunca e o sempre de volta, é o pulsar maluco de um coração achado, é a felicidade de gostar e ser gostada,  sabendo quem sou e quem és. Sabendo o que somos juntos, sabendo que somos bons, livres e alegres. Somos gente, gente de verdade, de bater, de apanhar, de sentir tudo à flor da pele, de querer com paixão, de com medo ir a diante. Somos quem conquistamos todos os dias, de baixo de nuvens escuras e dias que parecem noites, a cima do céu, a baixo da terra, somos inteiros para nós e para o mundo.
A solidão que me faz, que me vive, que me sente, deixa de estar quando ele está, e só retorna quando o vejo partir, então me pergunto: Como é que pode a gente gostar tanto da gente? Como pode ser não sentir medo? E como nos sonhos, talvez tudo termine antes que eu conte até três ou aprenda a andar de bicicleta, talvez os momentos sejam apenas isso mesmo, e eu demore ainda para chegar a foto perfeita ou ao amor certo. Pode ser que a ressaca seja cheia de solidão novamente, e que não haja nós dois. Pode ser tanta coisa, e a gente nunca sabe o que vai ser depois.
Mas de quê é feita a felicidade senão de ilusão? Felicidade é uma enorme aventura e uma incerteza ainda maior. É a gente sorrir sem querer e gostar de repente, é não entender o se passa no coração alheio, é não esperar esperando demais...
E a solidão, que cai tão bem a este ser inquieto e melancólico que sou, de repente é uma condição completa, que faz parte de mim, como os meus olhos, mas nem sempre eu os vejo, e me sei ainda que longe do espelho. Desta forma me sei só dentro de mim, porque quando olho pela janela de qualquer lugar tenho a certeza de que não há lá fora alguém capaz de entender o que sinto, como sinto, ou de saber o que está por trás do que visto, por baixo do que mostro. Mas então, de algum modo, me olhou de frente alguém capaz de me conhecer sem me conhecer e de me olhar me enxergando, alguém capaz da paixão que nos tira do prumo e nos leva a viagem mais louca que há, e não sei e nem me importa o tempo, o vento contrário, o frio que faz dentro de mim, o momento é o que tenho, e vivo por um único olhar, o mais doce e terno olhar, que me sabe, sem nada saber de mim.



As grades


Há uma história que se olhada por uma janela com grades não parece nossa. Permanecemos ali, olhando, em estado de graça ou pavor, sentindo vontade de viver. Há histórias que num primeiro momento parecem corretas, mas as grades sempre nos impedem de ver alguma coisa, sempre nos bloqueiam algumas percepções, sempre nos impedem de pular de janelas, nos seguram, guardam, protegem e nos impedem de sonhar. Porque sonhar não é seguro. 
Acostumei-me a essa vista, quase sempre é o mais perto do mundo que eu chego quando mais me sinto presa, e sei que lá fora nada é como vejo. Gosto da janela (não das grades), gosto de poder olhar para fora e ver de outro modo o que acontece nas casas vizinhas, gosto do olhar que não se envolve e nada vê enquanto tudo vê. Por vezes, sinto as opiniões apenas formas de ferir, machucar o outro, nunca um afago, um carinho, uma tentativa de compreensão, simples e fácil. 
O direito a ser feliz e amar em paz deveria ser seguro, deveria fazer parte da vida de cada pessoa e ser vivido em plenitude, sem a louca necessidade de explicações e conceitos idealizados. Ninguém devia precisar de dicas de algum livro de autoajuda sobre como ser feliz, porque ser feliz é sempre um dia depois de outro, mas não é todo dia. A nossa história não precisa ter sempre um "bonzinho" e um "mauzinho", mas catalogamos as pessoas de tal forma, como se cada um pudesse ser sempre muito bom ou muito mau. Confesso que se eu fosse muito boa sempre, talvez fosse muito chata também. Acho esta história com o vilão e o mocinho sempre tão parecida; rasa, vazia e sem perspectiva. O mau sempre termina mal (ou morto). O bom é sempre muito feliz. Mas que vida miserável deve ser esta de ser feliz para sempre! Quanto tédio deve dar.
Olhando pela janela foi que descobri que havia um mundo que eu não conhecia, e olhar para fora era sempre tão bom quanto ler algum livro, uma viagem sem sair do lugar, uma viagem que não custa e ensina tanto, ao mesmo tempo. 
Aprendi então a deixar que as portas se abrissem para que eu pudesse viver os mistérios do mundo, e me permiti abrir um pouco do meu mistério ao que há fora de mim, como uma forma de retribuir o que aprendo com o que posso ensinar. 
Como é bom, finalmente entender que a vida é fácil de viver, que felicidade não é cinema e que a alegria existe e está aí o tempo inteiro diante de nós, basta que a gente queira sentir, e quando não dá, a tristeza que nos vem de encontro, ou a tristeza que procuramos, é o que nos ensina a diferença entre ser alegre e estar alegre. E estar triste não é ser infeliz, tristeza não é total ausência de alegria, assim como a alegria não destrói um "que" de melancolia que há sempre em qualquer pessoa, e eu entendo a melancolia e me afeiçoei a ela, pois é a sua presença constante em mim que me faz ver o que há de bonito lá fora, num mundo tão conhecido e sempre tão novo. 
Nunca se nada no mesmo rio duas vezes, nunca se anda por uma mesma rua duas vezes, porque novos passos já deixaram marcas que você desconhece, e novas pessoas estão sempre a um passo de serem descobertas. 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O mundo é um muro de tijolinhos coloridos

Comecei uma carta para mim, pode parecer estranho, mas me habituei a escrever cartas, e quando não tenho a quem dedica-las, escrevo em meu nome. Escrever é o que faço de mais feliz, e as cartas são ainda mais que isso, são pessoais, difíceis e são toda a minha verdade. Da carta surgiu este texto e a minha mais nova e profunda vontade de recomeçar.

Estou tentando a força de que preciso; estou observando do lado de fora de mim, procurando enxergar cada dimensão... Estou usando um perfume de minha tia que usei por muito tempo, num outro tempo, diferente. Quando sinto este cheiro me lembro de outra pessoa, uma menina, antes de alguma relação difícil que tenha mudado sua vida. Lembro-me do seu olhar inocente e jeito doce de ver as coisas da vida, lembro-me dela se arrumando para o colégio novo e o cheiro era este em seu uniforme. Os dias foram indo e a gente só sabe como um tempo foi bom quando ele passa por completo e as coisas ficam tão diferentes... Sinto falta de mim, da menina que se sabia inteira, que não tinha medo de se mostrar, que não sentia culpa por ser quem é, que, talvez, com quinze anos soubesse mais do que eu agora. O cheiro dela está de novo em mim, e sem querer, quando senti, todos aqueles dias voltaram, e num arroubo eu chorei, num momento meu comigo mesma. 
Num outro instante percebi que toda liberdade que tive quando o tempo da escola passou, terminou me levando ao lugar errado, eu me tranquei e dormi por tempo demais, bebi coisas demais, até descobrir que a pior parte da ressaca não é a dor de cabeça. Comecei a me sentir em cacos quando voltava de algum lugar de manhã sozinha, era só eu, a maquiagem borrada e os tênis que já estavam gastos de tanto andar por aí, me machucando os pés ao descer a rua de minha casa. Eu não sabia quem era eu, só tinha certeza de que ficava cada dia mais insuportável a ideia de me ver tão sozinha, quando eu queria tanto um colo, um abraço antes que eu dormisse, alguém que ainda me achasse linda depois de tudo.
De repente eu apenas parei, juntei minhas coisas e saí, de fora eu vi minha vida inteira a se perder, eu só me encontrei longe daqui, e não foi difícil perceber que eu só seria linda todos os dias se eu soubesse disso todos os dias, ninguém mais faria um trabalho meu. 
Tudo que procurava em outras pessoas encontrei em mim: estimulo para conhecer o que não conheço, vontade de viver e ver o mundo e a força que me é natural. Eu só encontrei quando me enxerguei de novo, e ninguém me fez sentir isso, só eu pude fazer por mim. 
Então eu perdi o foco, todas as coisas externas me perturbaram; passei por chuvas que nunca cessavam; descobri a raiz do caos e o vivi até a última gota. Se há uma forma de explicar tudo isso, eu não sei se é esta, mas é como a gente se fazer mal todos os dias, desejando fazer o bem. É como ferir com próprias mãos todas as coisas que mais se ama e nunca poder voltar atrás. Mas estou aqui, e tenho me desafiado todos os dias a ser melhor, é um processo violento, quando ao me olhar eu encontro todas as coisas que quis esquecer, que escondi de mim mesma numa tentativa vã de me proteger. Agora lembrei que alguns dos meus pesadelos simplesmente passaram, não sei exatamente quando aconteceu, mas eu esqueci, e isso me faz acreditar que tudo termina, de um jeito ou de outro, alguma hora os tormentos deixam de insistir se nós não os alimentamos, assim a gente aprende a viver sabendo que a vida é um dia depois de outro e que nada é eterno e tudo é mutável, inclusive nós. 
A carta tem fim quando eu digo a mim mesma: Vamos lá, Corah, ser quem você escolheu, quem quiser ser para ser o melhor, vamos fazer com que tudo valha a pena. Mais uma vez. 

"De que são feitos os dias? 
-De pequenos desejos,
Vagarosas saudades,
Silenciosas lembranças...
Dentro deles vivemos, 
Dentro deles choramos,
Em duros desenlaces
E em sinistras alianças"

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Ela é o desastre


A pessoa que eu sonhei ser está perdida, às vezes tão distante de quem me tornei, às vezes sou apenas eu, que não me enxergo mais.
Denominar-me um desastre natural se tornou a brincadeira mais séria de minha vida, não é um pedido de desculpa, nunca foi uma desculpa, jamais soube dizer a mim mesma que tudo isto está errado, que ser um grande desastre quase sempre, não pode estar certo.
Ainda que passe o tempo eu espero acordar deste pesadelo cheio de agonia. Agonia de não ser a mulher que sonhei; agonia de não querer nada além de um colo; agonia de não poder mais me olhar no espelho sem procurar o disfarce perfeito; agonia de já não poder escrever, de não ter o que dizer.
Será que a alegria da gente é sempre uma grande ilusão? Será que não haverá o mínimo suspiro aliviado? Será que no caminho não há nada ou ninguém capaz de me tirar deste inferno? Notei, logo após a última lágrima cair, que voltei a usar as palavras como há tempos não usava, que finalmente volto a dizer apenas o que sinto. Tomo-me em devaneios.
Ando adiando tudo o que tem que ser vivido, dizendo que não sinto saudade, fingindo que tudo é tão adequado, repetindo que quando tiver tempo eu vou viver, e agora, não sei o que fazer comigo, não sei para onde devo ir ou como faço para consertar tudo quebrado em mim. E talvez amanhã quando o sol sair, eu aceite que não sou capaz de fazer tudo certo, que todo este conflito faz parte de mim, que talvez eu seja mesmo assim, naturalmente desastrada, um desastre natural, e esteja só esperando que alguém olhe bem dentro de mim e me mostre o caminho certo quando as coisas fogem ao meu controle.
Queria saber como é me sentir a salvo. Como é não perder tanto tempo com teorias de como a vida deve ser, de como eu tenho que ser. Porque de todos os meus incontáveis defeitos e falhas, o maior deles é ser infeliz a maior parte do tempo, enquanto repito, incansável e constante, que "está tudo bem", enquanto respiro por outras pessoas e me apego em outras histórias com este medo horrível de voltar a sentir dor.
Pois então, acho que aconteceu de novo, estou aqui, no mais profundo dentro de mim, no lugar mais escuro e vazio que poderia imaginar, não me forcei a chorar e nem é difícil escrever daqui de dentro, tudo flui com uma naturalidade incrível, então, será que finalmente estou me permitindo sentir dor? Será que é este o meu modo de pedir socorro? Será que de algum modo isto pode ser bom? Será que milagrosamente, alguma coisa começou a fazer sentido dentro de mim quando me encontrei completamente nua e sem disfarces? Ouvi um suspiro fugaz, então fechei os olhos e de repente eu me vi sem reservas, como um bicho, puro instinto, eu fui indo e indo, e então cheguei aqui, onde as flores estão mortas e caídas pelo chão, onde as pedras nos impedem de andar, onde a escuridão não termina, onde só existem palavras, as palavras mais tristes de que me recordo, e toda a confusão do lado de fora já não me perturba, me tenho inteira.
Volto a voar na escuridão, sinto que por um tempo ainda será tudo o que tenho, sinto que começar de novo se tornou a minha maior lição, e depois de ter lutado tanto para aprender a voltar atrás, tenho apenas um novo desafio. Existe uma ferida aberta e tantas cicatrizes, mas não faz mal, quando se vive como eu é difícil terminar o dia sem um arranhão, é difícil não despertar os piores olhares das pessoas e às vezes suas piores dimensões.
Daqui de dentro entendi que tenho me condenado por ser o que sou, me chamo um grande desastre, sou um enorme perigo e as pessoas não saem ilesas ao meu lado, porém, ainda assim, algo insiste em bater numa tecla, este algo me diz que a bondade é mesmo a única coisa que nos salva no final do dia, que nos permite algum sossego, e é ela que há de me salvar.
Sei que vou descobrir de novo que não há nada que preencha os meus espaços vazios, sei que então vou tropeçar novamente, dizer ou fazer a coisa errada pensando por algum estúpido mecanismo de defesa, e vou ter que levantar mais uma vez sozinha. Sei que vou acordar e lembrar que já não sei onde estou, então vou repetir que não posso mais, que sou fraca e incapaz de viver com o que me fere, sei que vou fugir enquanto puder. Novamente vou abrir a janela e chorar até cansar, implorando, sei lá para quem, que me tire daqui, que me ensine a ser melhor, porque ser sempre um desastre me tem destruído por completo. Então vou deitar em minha cama quente e fingir que a noite pode durar para sempre, que eu nunca mais vou ter que acordar.
Por hoje, me resta acreditar que quando o sol raiar mais uma vez, o ar que me roubaram vai voltar aos poucos, e todo o açúcar do mundo vai adoçar meu novo dia, que por aí, em algum lugar, estão as respostas que procuro, e como a vida é repleta de encontros felizes, em alguma esquina eu vou dar de cara com a minha melhor dimensão, então todos os terríveis enganos, os mais torpes juízos e os erros, destes imperdoáveis, ao menos farão sentido, e talvez, com sorte, parem de doer.
Boa noite.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

E o amor, você sabe o que é?


O vento às vezes bate do lado de dentro da gente, faz tudo balançar como quem pede atenção. É um "olha pra cá, tem algo errado... não se desligue". Quando tudo está vazio demais esse vento sopra e nos movimenta, faz brotar novamente um desejo qualquer.
A vida tem acontecido alheia a mim e todas as conversas têm sido internas. O riso do outro me causa estranhamento e certo incômodo, então me pergunto como aguentar um sorriso que dura uma vida e não desconstrói entre um flerte ou uma tarde de sol sem palavras. Por onde anda o encanto que perdi em alguém e já não encontro?
Acontece de repente: alguém te conhece simplesmente e sem explicação, te mostra dimensões suas totalmente desconhecidas para você, te quebra a rotina de se conhecer inteiro, toca uma parte inabitada, e até então adormecida pelo seu corpo, e é isso que se chama amor?
O caminho que nos leva de encontro a ele é penoso e penso então que gosto da dor como quem gosta do sorriso no rosto conhecido, conheço pela desventura, amo o que tem de mais profundo em alguém, a carne crua, que sangra; o beco escuro no fundo do peito; o sentimento mais torpe que há, também tem a sua poesia, e toda poesia é bela a seu modo.
O verdadeiro sentido do amor, se é que ele existe, está no caminho mais difícil de percorrer, e se no fim das contas houver um amor livre; de graça; que não fere e nem é ferido, é porque alguém já passou por todas as dificuldades inevitáveis de tê-lo, é porque alguém aceitou que amar não é prisão, é férias.
A "prisão do amor" é toda teoria a que tem sido submetido, e é difícil aceitar. Eles dizem: O verdadeiro amor nunca fracassa, fraqueja, desiste ou se vai.
E eu me pergunto quem é capaz de catalogar um sentimento, ou fazer dele menor por ter se cansado. Nós amamos e continuamos humanos, desistimos e vamos embora.

sábado, 14 de julho de 2012

Do seu, eu


Encontro um cartão, o mais simples presente, o mais discreto modo de se dizer amor. Palavras secretas, escondidas que se abriram poucas vezes, ouso pensar que foram tão poucas que aquelas tímidas palavras se perderam no tempo. E é como se ainda hoje eu olhasse para trás e pudesse sentir o cheiro que tinha a casa, a cama deles, suas roupas... Posso ouvir suas vozes, lembrar do que falavam, ler-lhes as antigas verdades.
Faço-me perguntas sem respostas, não espero qualquer certeza, apenas gosto de perguntar, como se alguém, em algum lugar se questionasse como eu.
Como amar alguém sem ser triste? Como amar alguém e não matar o amor próprio? Como amar alguém que seja simples e doce, só uma vez?
O cartão estava ali, em alguma caixa, no fundo de alguma gaveta ou na bagunça de um quarto, poderia ter continuado perdido, mas por alguma razão eu o encontrei e não pude me furtar a guarda-lo, e uma vez mais me questionar sobre o que fazemos dos nossos amores, como os matamos diante das impossibilidades.
É só um cartão, são só palavras e uma vida que podia ter sido vivida, não fossem os desastres que todos cometemos; não fossem cabeças duras e incuráveis manias destrutivas; formas de machucar.
Só um cartão e toda esperança nele contido, de um amor que durasse uma eternidade e que fosse feliz. Guardo comigo o significado perdido para eles, e sei o quão triste pode ser quando as coisas terminam e alguém se vai. São duas pessoas que conversaram por horas a fio, ganharam tempo se descobrindo e perderam tempo se estranhando. Alguma vez tudo foi leve não havia o medo inconveniente de se dizer bobagens. Penso nos detalhes que não houveram, os que eles esqueceram, penso nas palavras que disseram, as que não disseram. Penso em tudo que eles esperavam encontrar, tudo o que sonharam fazer e o que não fizeram. Eu não sei se são felizes enquanto penso no que lhes afastou para sempre... O "para sempre", se existe, é tão triste.
O amor morreu, quem matou, o que matou, quem vai em frente, quem volta atrás? Quem sabe?
Quando uma coisa sai errado você volta à opção anterior?
A questão continua a ecoar: Quem é que sabe seguir em frente?
Será que alguém sempre se lembra do outro que não foi; que não está; nunca esteve; nunca escreve, ou se vai?
Volto-me inteira para mim, e esta ausência de um desejo qualquer me entorpece, é como se ouvisse... "eu quero estar contigo, pequena..." de uma voz que não conheço. Um carinho bobo, de quem, não sei.
É apenas mais uma noite fria e estamos sós...
São algumas -muitas- horas a nos separar, são meus estardalhaços, meus rosnados, minha força bruta que me fere inteira e do outro lado o ser reticente que imagino, pacífico e são, como tudo o que eu sempre sonhei. E que talvez possa me dizer uma coisa aqui e outra ali que mude o fato de que eu preciso me sentir sempre assim...
Irremediavelmente só.

domingo, 24 de junho de 2012

Ainda tem areia no meu coração


E se cada um soubesse a exata dimensão do que procura? O amor certo; o amor bonito, que alguém desejou e que ficou como um estribilho perfeito, perdido, esperando...
"Ainda tem areia no teu coração?"
Espera uma resposta como um último grito que faz permanecer no mesmo lugar. A resposta que às vezes a vida dá, com o vento ou um dia de sol, dizendo: Não corra. Não tenha medo.
Espera uma vontade, de repente sorrir sem pretensão e derreter o escudo anti alegria de alguém. Espera, espera mais um pouco. Ainda tem areia no meu coração, histórias meio vividas, partidas ao meio, sem começo e sem fim.
Nunca sabemos aonde vamos parar depois do primeiro olhar; uma palavra que nos leva mais longe do que poderia; uma verdade inventada no momento preciso; uma promessa qualquer, sem querer. Aonde acabamos ou começamos ninguém nunca sabe, quando se nota a história já está inteira diante de nós e quem é que escolhe sempre o melhor caminho?
"Não importa de onde você parta, não vai chegar a lugar algum. Esta cidade é grande demais para você" - Depois de me perturbar, entendi que não vou mesmo chegar ao lugar que esperam. Ninguém nunca é o que o outro espera. Mas e se eu for grande demais para a cidade?
Nunca serei o plano perfeito de alguém. E se fosse do tamanho certo?
É estranhamente incomodo (claro) ter que admitir não ser sempre a melhor das opções para quem está em volta, mas não me frustra a ideia que não vou ser o que alguém sempre buscou, estou longe de pensar que sou também o caminho errado e torto.
As pessoas sempre vão procurar a resposta que lhes parece perfeita; exata; que se adeque aos padrões e que se encaixe nos espaços vazios e frios de cada um... Mas eu não caberia em um vão. Eu não poderia me permitir ser tão reduzida ao plano de alguém, talvez esteja mais para a surpresa, o improvável. Aconteço e dou certo em histórias alheias à minha, quando histórias de tolerância, cuidado e compreensão. Me aconchego em braços cálidos, que acolhem e protegem. Só permaneço onde me sei completa e segura, me finco no solo, gosto de certezas. De incerta, já me basto.
Sinto a aversão de alguns ao fato de que todo mundo precisa de cuidado. É tão difícil lidar com as carências intrínsecas a cada um e com as dependências inevitáveis da vida, como se isso nos fizesse mais fracos. A verdade é que talvez o que nos faça fortes de verdade seja a coragem necessária ao mostrar que não há pecado em chorar, nem há fraqueza na emoção, e que tudo é questão de sentimento, a razão é que é fugaz.

sábado, 2 de junho de 2012

"Mas quando você é o lixo, dói demais ser jogado na sarjeta"

As coisas devem se renovar - dizem. A gente joga fora o que não serve e adquire o que nos parece bom. O bom, sempre muda; sempre é outro; e o outro, que fora ruim, pode ser bom, em determinado momento.
A experiência nos transforma a cada passo; o que deixamos pelo caminho às vezes nem se nota, é triste quando você é o que fica para trás, não? Há vezes em que se sente o lixo para o resto do mundo, e dói como uma faca, que corta aos poucos e fere devagar... Porque o resto do mundo, é muita gente.
As histórias não precisam acontecer para findar, não te parece maluco?
Ao mesmo tempo, que tipo de paixão insiste em não ser fugaz?
Ou qual é a escolha que nos faz acertar ao nosso próprio coração, sem a pretensão de afetar o alheio?
Quais são as escolhas que nos fazem melhores de dentro para fora, para nós mesmos?
Nos transformamos; todos, mas o âmago de cada individuo permanece o mesmo, não acredito em uma forma de transformar o que há de peculiar em cada um, como a maneira de amar ou de ser bom para o resto do mundo. Não creio em maldade absoluta ou tratamentos que transformam alguém da noite para o dia em um ser "melhor", o melhor é subjetivo também.
O que não sou capaz de compreender posso aceitar ou recusar, simplesmente? Tudo é questão de opção e escolhemos ser contagiados pelo outro?
Custei a entender que a paixão é o único contágio que não se escolhe, e o que mais fere. Diante da impossibilidade de se aceitar o que no outro nos parece equivocado ou "fora do padrão" de certo e errado que sempre nos impomos (todos), o que resta?
A paixão acontece, não se escolhe não ser contagiado por quem nos cativa de graça; não se escolhe querer um outro ser completamente diferente de nós; nem se escolhe o desejo desenfreado de, por vezes, tocar aquele que nos faz mal.
O que se escolhe, diante do contágio da paixão que entorpece todos os sentidos é permanecer ou recusar-se. Não é simples, jamais será, e tudo tem que doer para passar, porém se escolhe um tipo de dor:
Será melhor viver com o outro e aceitar a realidade que lhe cabe, ainda que isso nos contradiga todas as certezas?
Ou o mais correto é aceitar que a ilusão sempre finda e pode machucar ainda mais quando se cria uma expectativa do contrário?
Há uma forma possível de racionalizar o que é fantasia e o que é concreto? Quem sabe dizer?
O verdadeiro fato é: Ou se muda o foco, ou se aceita. Não existe mecanismo que transforme o outro.
E principalmente, não há mecanismo algum capaz de gerar encantamento em alguém só porque assim queremos que seja. Por tanto, não existe razão para que se force uma mudança. A real mudança só ocorre por nós e para nós mesmos, mudar porque alguém desejou, acaba por nos transformar em tolos perdidos; maquiados; com máscaras, que em algum momento, terão que cair.
E ainda que doa ser jogado na sarjeta, dói ainda mais acreditar ser imune a virar passado na vida de alguém, porque todos nós passamos uma hora, e tudo passa.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Coisas da gente que a vida sabe de cor

Esta cidade já viu meus olhos inundados d'água, e me viu acreditar mais uma vez. Maris e Barros presenciou meu coração à explodir de esperança e minha janela me sabe inteira quando estou só.
O mundo sabe de nós coisas demais, enquanto talvez, saibamos muito pouco, a vida parece estar sempre nos fazendo tropeçar em nossos erros e nos dando novos motivos para olhar mais a diante, como se todas as terríveis dificuldades e os desencontros, fossem, por alguma razão, só uma parte do que é viver mesmo, aguentar é questão de sobrevivência, mas sorrir é a maior demonstração de força.
Às vezes vivo como se ainda procurasse por algo, às vezes não vivo, fico em suspenso, em sono profundo e me perco no sentido de quem quero encontrar, é um sonho torto - penso- um sonho torto.
O caminho conhecido é sempre fácil, não dá gosto, nem desgosto, é o mesmo, não importa quem por ali passe. Deve ser por isso que as ruas de Icaraí me parecem sempre diferentes, cada vez que volto se renovam, sempre me perdem, sempre me emocionam, como a alguém que busca em cada esquina uma resposta, e quase sempre chora ao encontrar, porque a resposta é como um sol, uma nuvem, uma calçada rachada, a areia da praia, uma bola de sorvete, a corrente de vento, uma frase de Chico, a minha própria história que as ruas vão me contando, e a nossa história, ao ser lembrada, muitas vezes dá vontade de chorar.
A vida é uma sequência de encontros e desencontros, quando sabemos quem queremos encontrar, muitas vezes ficamos à beira do caminho, tantas vezes esperamos tempo demais, e o tempo se vai diante da porta errada em que batemos. Há vezes, porém, em que a vida nos permite encontros felizes, coincidências, acasos que viram histórias inteiras, repletas de céus azuis e dias de chuva também, porque se vive sempre um dia de cada vez.
Sinto uma paz me tomar, os sobressaltos ficaram há algumas horas e me lembrei de que a vida é muito mais do que instantes da confusão que me causam todas as paixões ou a ausência delas. Ela me sabe de cor, em cada pequeno detalhe triste, ou cada grande esperança, ela é que me vive, por vezes? Não sei dizer, mas existo tão completamente que nada jamais faz sentido. O sentido é nunca, é agora, é sempre e sempre me perde, o sentido não existe.


sexta-feira, 18 de maio de 2012

O "código de conduta"

Eu sou capaz de compreender um jogo de futebol se perder meia hora assistindo, mas ainda não entendo as reações humanas diante dos desafios que a vida as apresenta. É certo que nós somos pequenos demais, e a cada instante nos tornamos menores, nossos valores são menores, nossos amores são menores, nossas histórias não tem encontros felizes, elas nem ao menos tem um pouco de coragem diante do desastre ou da infelicidade.
Pensei que então, adoro a minha loucura, porque do coleguismo, moralismo e "código de conduta" alheio, estamos todos entupidos até as orelhas.
O código de conduta que fere, incapaz de amar, incapaz de um gesto de ternura.
Estamos perdidos neste lugar sem mãos estendidas, sem palavras bonitas e sem esperança.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Descompasso

E esta dificuldade em me encontrar no passado, me descobrir no que ficou distante.
E esta procura por alguém que não está.
E este tolo desencontro com quem fui, agora, aonde vou?
E se o amor termina, quem somos nós?
Uma história esquecida, que não será contada.
Uma verdade torta, que fica, como tudo o que não serve.
Um olhar luminoso que entristece.
A obrigação de viver.
Este estranho descompasso, o incômodo silêncio de minha solidão.
E ler o que escrevi há tempos é como voltar as páginas de um livro, por vezes, muito triste de se ler.
Há a necessidade de não contar a mim mesma o que acontece.

Às vezes me cobre o desejo de esquecer.
Às vezes, num arroubo, me procuro no lugar errado.
E se sou apenas uma história complicada.
E se andei somente por ruas tortas.
E se eu virar para o lado e fechar os olhos, eu me esqueço de quem fui?


quinta-feira, 5 de abril de 2012

"Um brinde ao destino"

Eu sigo marcando livros, lendo novas histórias e ouvindo as histórias de quem sou quando não sou, de quem sou quando não me pertenço.
Eu sigo grifando frases, destacando possíveis respostas, aprendendo o que dizem as entrelinhas do meu ser e descobrindo-me em novos livros, em novas versões, novas verdades.
Eu sigo por esta estrada sem caminho de volta, sem olhar para trás, e lá atrás está aquela que fui mas não sou. La atrás está aquela história que vivi e por aí tem sido contada meio torta, hora certa, hora equivocada.
Sigo por noites cálidas, noites frias, noites caminhadas com mil versos na cabeça, algumas frases sobre estrelas e a lua que vejo, enorme, de cima de um morro.
Seguir é o natural, às vezes nós paramos e ainda assim os dias seguem. Muitas pessoas ficam, tantas, antes inesquecíveis, e agora sombras, tantas, na verdade podiam ter sido para sempre, apenas tomaram rumos distintos dos nossos, e podemos acreditar que novas histórias vão surgindo e ocupando os espaços vazios deixados.
Hoje acredito que algumas respostas que parecem não existir a vida se encarrega de nos dar, e que muitas verdades que nos foram impostas, ou por nós cristalizadas, simplesmente não eram verdades.
Então, se no final das contas, por destino ou por acaso, eu vim parar aqui, e se ali a diante talvez tenha que aprender a voltar atrás, eu não sei, a verdade é que a vida é que nos leva, e há sempre caminhos novos a serem descobertos, ou os mesmos caminhos a nos redescobrir.

terça-feira, 20 de março de 2012

Passos e noites vãs

Para que viver correndo se no fim das contas a gente acaba? Vamos chegar aonde mesmo?
Do nada viemos, para ele voltamos, e talvez nada do que conquistamos realmente nos pertença, nada além do sentimento, ou da razão. E às vezes até a razão se vai.
Hoje eu completo mais um ano de vida e me pergunto aonde vou parar, se a morte é quase tão simples quanto a vida, porque a gente chora?
Tenho andado por ruas bonitas, às vezes paro, volto e reparo no céu visto de um morro alto, às vezes eu presto atenção em mim, às vezes eu me perco e me vou.
Vivo com pressa, atordoada, quero chegar, quero sentar, hoje eu só queria viver mais um pouco...
Sinto que não vamos a parte alguma, que os lugares é que nos andam e nós somos apenas um pedaço de uma coisa bem maior. Eu sei que sou mais uma pessoa, só mais alguns passos apressados, só mais alguns passos lentos, apenas passos em noites bonitas, ou noites tristes.
Ninguém vai nos dizer o que está certo, quem somos nós para saber? E quem vai dizer o que está errado cada vez que uma lágrima cai e a gente perde o controle? Quem é que tem o controle de tudo? Eu não.
Já me vejo chegando, descendo esta rua, sou o reflexo em alguns carros quando bate a luz, sou apenas alguém que quer chegar, estou em todo lugar e não descanso de mim, nem minha solidão me basta. Queria me perder de mim mesma, só pra variar um pouco.
E caminhando foi que percebi, as pessoas passam por nós e se vão.
"Talvez não valham o esforço de um correr atrás" - penso.
Elas não valem porque nós não as conhecemos e é mais fácil pensar que não se perde nada. Conhecer é algo que exige esforço, tempo e paciência, e eles se vão enquanto você pensa... Algumas chances se vão enquanto se pensa...
Me percebo só, e será que não estou justamente porque não me dou a liberdade de conhecer quem jamais ousaria pensar, senão por acaso ou destino, ou os dois, nos querendo empurrar? Nós ignoramos...
Para que esperar que as coisas aconteçam quando não se tem nada a perder? A vida é um risco e nós não sabemos viver, não sabemos arriscar, como é triste.
Me vejo, hoje, ao completar um ciclo de vida, caminhando devagar, me sinto só, me sinto serena, me sinto simples e fácil de entender, me sinto esse pulsar, já menos acelerado.
Eu sou este turbilhão, que se desfaz e refaz a todo momento, e queria me perder sem o medo de não me achar.
Mais uma noite...
E me lembro então, que alguém concertava meus brinquedos e me falava sobre os pássaros, o vejo caminhar entre as flores e dar comida aos bichinhos nas gaiolas, eu não gostava de vê-los tão presos, mas entendia que talvez, ele só os quisesse proteger, como aos filhos que não pode, ali, eles estariam seguros e cantariam mais alto.
Seus olhos azuis cheios de lágrimas ao sol, seus olhos azuis cristal a me olhar tão doce, queria que seus olhos me vissem para sempre, queria ir com ele por esta fantasia tão grande em que se perdeu, queria pegar a minha bolsa e dizer "vou-me embora" mas desta vez, não vou só. Queria ter me lembrado de dizer o quanto me soava doce cada uma de suas palavras duras e até a sua postura, sempre tão firme.
Somos poeira, e nada mais, uns vem, outros vão, e o mundo continua a girar. Nada muda realmente, e tudo muda o tempo inteiro. Os lugares permanecem e as pessoas os transformam, mas eles ainda são os mesmos.
E o que eu não daria para voltar, ao mesmo quintal de plantas, seus muros de concreto, e ele me ensinando sobre sementes de girassol, sim, ele gostava de mastigá-las, e ainda que eu não gostasse, mastigava também para fazer-lhe companhia.
Não tinha gosto, mas me lembro de como achava incrível dizer:
"Ei, vovó, estamos mastigando sementes de girassol antes do almoço!"

Ao senhor dos olhos azuis cristal, tão branco e tão alto, um Valdoski inteiro e eterno.
Ele não sabe, mas alguém já me abriu a porta para que saísse com a minha mochila nas costas, e fosse para nunca mais voltar.

quinta-feira, 15 de março de 2012

"Me diz o que é o sufoco, e eu te mostro alguém afim de te acompanhar"

Gostei desta - ele disse
É a primeira vez que realmente parece uma carta...
Ele não a levou, nem esta, nem as outras que lhe escrevi (foram pelo menos vinte), ficaram todas, dentro de seu saquinho azul transparente, cheio de borboletas, que antes me fora dado por outro que já nem me recordo.
Dele me recordo, apenas dele, como se ontem mesmo tivesse me negado o primeiro beijo, com aquele seu jeito terno de recusar. Como se ontem mesmo tivéssemos dormido juntos, agarrados em minha cama pequena...
Não sei onde ele foi.
Sei que existe o que sentimos e sentiremos, sei que ele está lá, ali, aqui, em todo lugar, e não vai sair.
Sei que ninguém, como eu, há de saber do que ele gosta, o que ele teme, o que lhe cativa ou fascina, talvez nunca saibam, ou descubram quando sua cama já estiver fria demais para mim.
Me pousa uma libélula na parede ao lado, sinto-a tão serena, sem pressa, sabe viver, sabe esperar e espera. Ela, assim como nós, sabe aonde deve chegar, apenas não se afoba, então porque fazemos sempre o mesmo, tudo sempre igual?
Vivemos traçando as mesmas rotas, cometendo os mesmos erros e repudiando-os, vivemos tentando esquecer que já somos páginas viradas, porque dói demais ser jogado na sarjeta, e dói demais não ter caminho de volta.
Enquanto eu leio outros livros, ele esquece, enquanto eu tento esquecer, ele se perde, e vamos sentir este estranho incômodo por quanto tempo eu não sei, vamos nos sentir vazios até nos completar de coisas novas e isso é quase como começar do zero.
Mas às vezes, só às vezes, ouço uma música que me destrói por completo, e é como se ele falasse comigo, é como se me olhasse, com aqueles mesmos olhos fundos e dissesse: "Do nosso amor, a gente é que sabe, pequena"...
Uma dor funda me toma, e não posso mais controlar o que sinto... parece que esta noite nunca vai terminar.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Não que ela seja tão Bossa Nova

Seus olhos multicoloridos se inundam agora, como a primeira vez...

Não que seja esta forma de olhar, de ver a vida, de abrir as janelas de sua alma ou a maneira espontânea como fala (às vezes demais)... Não que seja apenas esta louca maneira de amar, ou sua forma nada contida de entregar o jogo. Não é apenas como veste uma lingerie, mas como veste-se inteira de verdades ao falar.
Não é sua calada maneira de chorar para sua janela ou o modo como se sente só, incondicionalmente só... Não é seu modo de calar, mas a voz que grita, que arranha as tardes de sol -num samba.
Não são os caminhos que se fazem e desfazem à sua frente, não são os brincos que perdeu por aí, ou só as estradas erradas cheias de cacos por onde se cortou.
Não são os fins, são os meios...
Não que seja só esta doce maneira de andar sem rumo, nem são só as luzes das noites cariocas -que tanto ama- a iluminá-la...
Não é só a imagem refletida no espelho.
Não são as palavras tristes que profere ou as ausências e os espaços vazios. Assim como também não é só o sorriso que às vezes se atreve a sorrir.
Não são as sardas, a boca, o batom -essa mania de cantar- ou os olhos... colo, seios, quadris, pernas, aparatos e penduricalhos...
Não é o que se pode ver.
Não que sejam as unhas pintadas de carmim, ou os livros inacabados... Não é também só o que tem de Chico Buarque em suas palavras.
Não que seja só este atar e desatar comum em suas relações... Nem são só as coisas que se jogaram pelas janelas -para nunca mais...
Não são apenas suas mãos esperando a palavra a vir, quando falta a palavra certa.
Não pode haver outra, que como ela, anseie, busque, erre, tropece e caia com tal inteireza, e que do mesmo modo, se levante.
Não deve haver nenhuma outra que se ame e se odeie com a mesma paixão, e tão intensa, que morre todo o tempo, e do mesmo modo renasce.
Não há quem grite desta forma e ao mesmo tempo às vezes seja tão Bossa Nova.
Sabem... Chego a pensar que na verdade são estas coisas intrínsecas a ela, como a esperança, uma fonte de inesgotáveis chances de se fazer diferente o que está errado, esta mania -teimosa- de acreditar, que ainda que tudo dê errado, a vida dá muitas voltas, e numa delas, a gente se acerta.

sábado, 14 de janeiro de 2012

"Se meu coração fosse mais triste que uma canção, você ainda ouviria?"

Estamos descobrindo, meu bem, que amar, viver e lutar não são coisas fáceis e que talvez por isso só quem consegue levantar sozinho chega a algum lugar. Estamos aqui esperando que alguém nos ensine uma lição valiosa, algo que nos dê de novo um sentido. Estamos, enfim, talvez um pouco perdidos... Queria que você não tivesse medo, que houvesse confiança e a certeza de que no fim das contas tudo fica bem, eu queria que acreditasse em mim.
As nossas mãos já não se encontram e nossos beijos ficaram em algum lugar dessa história, nossas cabeças deixaram de coincidir e passaram a se afastar, estamos negando que sejamos tão parecidos como de fato somos, isso pode doer um pouco... Ou pode doer mais...
Eu queria saber de que forma escrever para tocar-lhe o coração, já foi tão fácil e agora tudo é um mistério, às vezes até como se fossemos dois estranhos, aí tento pensar que o amor tem mesmo dessas coisas, leva pra longe, trás de volta e joga com a gente o tempo inteiro, me lembro de você em meu travesseiro e aquilo era tão real que num arroubo te volto a conhecer por inteiro e amar ainda mais, se é que é possível.
Peço que entenda que existem milhares de erros a nossa volta e os que não cometemos, ainda estamos por cometer, nunca seremos perfeitos em nada, a não ser um para o outro, e se há alguma forma de mudar tudo isso, me ensine, pois eu ainda não descobri.